Já ouviu falar da Web 3.0?
A disseminação cada vez mais veloz da internet e de novas tecnologias de informação vem impactando de forma mais do que significativa as relações humanas, de tantas maneiras quantas conseguirmos imaginar. Isso não é novidade para ninguém. No entanto, uma conjunção de novos fatores e novas tecnologias que despontam atualmente no horizonte prometem subverter e revolucionar ainda mais essas estruturas. É a chamada Web 3.0, também conhecida como Internet Espacial!
Mas afinal, o que é a Web 3.0?
Situada na confluência da inteligência artificial, realidade virtual, realidade aumentada, internet 5G, da popularização e barateamento dos sensores e microprocessadores, da interconexão de uma infinidade de dispositivos (internet das coisas), de tecnologias cada vez mais seguras de armazenamento e criptografia de dados e da inteligência artificial, a Web 3.0 permite uma nova forma de justaposição de camadas de dados do mundo dito “real” com o chamado mundo “virtual”, tornando-se essencialmente uma web espacial. Para entendermos o conceito de Web 3.0 é necessário, portanto, primeiramente entendermos as “webs” que a antecederam. Vamos lá!
Se a Web 1.0 era basicamente composta de documentos e arquivos estáticos, publicações essencialmente textuais e destinadas quase que exclusivamente à leitura, ou seja, basicamente informações de via de mão única, do emissor para o receptor, com a Web 2.0 o conteúdo disponível na rede tornou-se cada vez mais multimídia, interativo e participativo, a exemplo das redes sociais, dos Wikis, fóruns espalhados pela Web e das plataformas online colaborativas. Na Web 2.0 os usuários tornaram-se também produtores em potencial.
Apesar da imensa evolução na dinâmica de produção e interação da Web 1.0 para a 2.0, em ambos, no entanto, uma coisa se manteve quase que intacta: telas retas e essencialmente bidimensionais…
A Web em 3 dimensões
Com a Web 3.0 o que ocorre basicamente é um deslocamento das tradicionais telas bidimensionais para uma nova forma de sensibilidade e postura frente o espaço, que passa a ser essencialmente multidimensional. É como se todo o nosso mundo “real” pudesse ser mapeado e transformado em dados manipuláveis, pudesse ser guardado, compilado e acessado neste novo ambiente espacial criado por meio de ferramentas que propiciam essa interface.
Ainda não há um consenso totalmente claro sobre uma definição da Web 3.0, a Internet Espacial, mas basicamente ela pode ser tratada como um ambiente computacional que existe em um espaço tridimensional – um híbrido de “realidades reais” e realidades virtuais – possibilitado pela conexão de bilhões de dispositivos rede e acessados por meio de interfaces de Realidade Virtual ou Realidade Aumentada.
Os impactos da Web 3.0 em nossas relações pessoais e de trabalho
Para trazer o assunto para um aspecto mais concreto, vamos primeiro nos lançar num esforço imaginativo. Pense na possibilidade de mudar sua sala de trabalho, a sede de sua empresa, ou até mesmo o prédio em que a empresa em que você trabalha está sediada.
Quer uma vista para o mar? Quer que a vista da janela de seu escritório seja o pico de uma montanha nevada? Talvez um escritório no fundo do mar seja o local mais apropriado para uma reunião de trabalho…. Ou então, quem sabe, em Marte. Novos móveis? Num estalar de dedos, sem problema algum! Papel e caneta? Nem pensar! Tudo será registrado por meu assistente virtual, que fará e enviará sozinho a ata da reunião para todos os presentes.
Detalhe: tudo isso pode ser feito enquanto você ainda desfila elegantemente o seu pijama pela sala de estar (essa sala de estar é física, feita de cimento e concreto, ok?).
Virtualmente não teremos limites?
Sim, com a Web 3.0, por meio das novas ferramentas tecnológicas que já citamos, como a Realidade Virtual e realidade aumentada, por exemplo, podemos simplesmente criar novos espaços e ambientes de trabalho ao nosso bel prazer, da forma que bem entendemos, subvertendo não apenas as regras da arquitetura e da decoração como também as regras da física, se assim desejarmos!
Basta colocar seus óculos de realidade virtual ou algum outro dispositivo que permita essa imersão e, imediatamente, você poderá ser transportado para esse novo ambiente computacional em três dimensões, aonde os dados podem ser tocados por meio de sensores, armazenados e criptografados.
Por meio de dispositivos e ferramentas de verificação e certificação de identidades, como a tecnologia blockchain, a mesma usada nas criptomoedas como o Bitcoin, por exemplo, abre-se a possibilidade de que esse novo espaço híbrido virtualmente criado seja acessado somente por pessoas autorizadas, por meio de chaves criptográficas.
Isso permite, por exemplo, organizar uma reunião com seus associados e colaboradores em sua nova sala virtual, liberando dados e informações sensíveis somente para o pessoal que realmente os necessita.
E a ideia é que isso se amplie, que um novo mundo virtual seja criado, com infraestruturas inteligentes, com endereços para pessoas, lugares e coisas, com sua própria cadeia inteligente de suprimento e por aí vai.
Mas, para tanto, é necessário que novos protocolos desenvolvidos especificamente para a Web 3.0 sejam criados. Se hoje o protocolo TCP/IP é a base da arquitetura da rede, amanhã haverá a necessidade da criação de novos modelos, pensados para sustentar e manter a interação e segurança de todos esses novos ambientes tridimensionais virtuais.
Web 3.0 – treinamento no mundo virtual, resultados no mundo real
Apesar de a Web 3.0 ainda ser algo a ser desenvolvida e amplamente implementada nos próximos anos, experiências do presente já nos mostram que os impactos dessa revolução tecnológica serão imensos. Uma das áreas que já se beneficia e certamente se beneficiará mais ainda destes novos ambientes virtuais é a área de treinamento de pessoal.
Exemplo do emprego destas novas possibilidades é o que vem ocorrendo desde setembro de 2018, quando a rede Walmart comprou 17.000 unidades dos Oculos Go, um dispositivo de realidade virtual que permite a imersão de seu usuário nestes novos ambientes.
A gigante do setor de hipermercados tem empregado esses dispositivos de imersão em realidade virtual no treinamento de seu pessoal em todo os EUA. Já foram realizadas simulações virtuais desde situações em que os clientes fazem pedidos inusitados, testando a capacidade de reação dos funcionários, até simulações mais robustas e complexas, como a de uma maratona de compras em uma Black Friday.
Explorando novos ares
Outra empresa que tem explorado essas novas tecnologias já disponíveis é a fabricante de helicópteros Bell, que por meio da realidade virtual está conseguindo otimizar e muito o desenvolvimento de seus protótipos.
Se antes o processo de design de suas aeronaves, que incluía a produção de modelos em escala real, levava ao menos 6 anos, agora, com o uso de novas tecnologias e o desenvolvimento de modelos e réplicas totalmente virtuais, o processo caiu para 6 meses.
Mais do que apenas no design, a Bell também tem apostado em simulações de voos e testes virtuais, que permitem aos pilotos entender as interações e performance dos helicópteros como se de fato estivessem voando.
Assim, constata a necessidade de alguma eventual alteração aerodinâmica ou estruturais, tais alterações podem ser realizadas quase que em tempo real, o que reduz gastos e gera uma enorme economia de tempo.
Um toque de realidade
Há também no mercado novas iniciativas de empresas que tem focado seus esforços no desenvolvimento de sensores táteis, capazes de simular as sensações de toque e pressão dos dedos. Exemplo é a companhia francesa Go Touch VR, que em parceria com a desenvolvedora de software Flyinside tem desenvolvido sensores de toque para os dedos destinados à aviação, replicando texturas, flexibilidade e outras sensações táteis. A ideia é que a sensação dos pilotos seja a mesma que a de um cockpit real.
Novas plataformas de treinamento, como a FLAIM Trainer or Target Solution, permitem que os bombeiros aprimorem suas habilidades em situações simuladas de alto risco sem, no entanto, colocar suas vidas em risco.
No mundo médico, em breve também será possível a realização de cirurgias cada vez mais complexas e precisas, já que com sensores e câmeras mais potentes e modernos, capazes de criar imagens tridimensionais, amplia-se a precisão das incisões e reduz-se o tempo entre o diagnóstico e o tratamento.
Empresas totalmente virtuais
Já existem empresas, como a Virbela, especializada na criação de ambientes corporativos, educacionais e de treinamento, todos virtuais. Foi ela que desenvolveu todo o ambiente de trabalho da eXp Realty, empresa americana criada em 2008 e que é especializada no ramo imobiliário.
A empresa não existe fisicamente, não é feita de tijolos e cimento, toda a sua estrutura é virtual. Assim, por meio de plataformas e ferramentas específicas ela treina seus colaboradores, realiza conferências e reuniões e, principalmente, realiza negócios. Tudo isso sem qualquer necessidade de que as pessoas envolvidas no processo precisem sair de casa.
Com a popularização da Web 3.0, a tendência é que cada vez mais empresas deste tipo, totalmente virtuais, sejam criadas e passem a exercer um papel cada vez mais central na economia global, alterando substancialmente a forma como entendemos as relações de trabalho, a vivência e experiência corporativas.
Com a Internet Espacial, a relação que estabelecemos com os demais colegas de trabalho, com nossos superiores e clientes, tende a ganhar a se enriquecer culturalmente, já que tais pessoas, agora, podem muito bem ser tanto o nosso vizinho de porta quanto alguém que, fisicamente, está no outro canto do planeta.
Como a Web 3.0 será implementada, regulamentada e utilizada, isso só o tempo dirá. No entanto, uma coisa é certa, ela veio para ficar e alterará de maneira sem volta a forma como interagimos com os outros, como, onde e quando trabalhamos e aprendemos e, principalmente, a forma como nos vemos e nos sentimos inseridos na realidade.